As origens históricas da reencarnação

O senso comum, amplamente difundido, é o de que a reencarnação nunca esteve associada ao Cristianismo e à Igreja. Mas, como veremos a seguir, isso está longe de ser verdade.

A reencarnação pode até mesmo ser considerada como uma espécie de linha divisória entre a Igreja e o Espiritismo. Doutrina inexistente no Cristianismo “oficial” e, ao mesmo tempo, um dos pilares fundamentais da religião espírita, resultando, na prática, na existência de um grande grupo de fiéis “híbridos”, os “Católicos Espíritas”. Isso não deixa de ser irônico e já veremos por que.

O que sabemos é que os chamados “Católicos Espíritas” seriam compostos por fiéis que, mesmo católicos, optaram por não aceitar a inexistência da doutrina da reencarnação e, com isso, a agregaram, assim como algumas outras da doutrina espírita, em suas crenças cristãs. Essa fusão, ou hibridismo, geralmente só ocorre quando a doutrina espírita adotada é uma das que, em algum momento de sua história, também já havia sido fundida com os principais preceitos cristãos, como por exemplo, o kardecismo ou o umbandismo, tornando as duas doutrinas relativamente compatíveis.

Porém, a ironia a que me referi é que, historicamente falando, os “Católicos Espíritas” existem desde o surgimento da Igreja e o grupo mais novo nessa estória toda é justamente o dos “Católicos Não-Espíritas”.

Isso faz algum sentido? Os católicos não teriam sido sempre não-espíritas? Sim e não. O “sim” é porque o espiritismo, enquanto doutrina e religião, ainda não existia oficialmente quando a Igreja surgiu. Já o “não” é porque o conceito de reencarnação sempre esteve presente, e era parte integrante, no conjunto de crenças que formavam o cristianismo desde as suas origens. E é por essa simples razão que os “Católicos Espíritas” existem desde o surgimento da Igreja. Mas isso mudaria, e por razões não muito nobres, o que daria origem ao grupo de católicos que não mais acreditariam na reencarnação.

A crença na reencarnação é algo que surge com o ser humano primitivo, tendo em vista seu natural inconformismo com a morte e sua necessidade de se apoiar em crenças que sustentem a idéia de continuidade eterna. Já a doutrina da reencarnação parece aparecer pela primeira vez nos Upanixades, as instruções religiosas hindus, sendo uma espécie de punição infligida pelos deuses a quem teve uma vida má. A doutrina viria a sofrer algumas modificações através do tempo e da história das religiões, onde, de castigo e punição, viria a significar para os espíritas uma espécie de purificação gradual.

Quando foi que a coisa mudou? E por quais razões?

A extinção da doutrina da reencarnação da Igreja surgiu de uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano ao Concílio da igreja, seguindo ordens de sua esposa. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela teria iniciado sua rápida ascensão ao poder como cortesã. Após sua ascensão ao poder, decidiu se libertar do passado que a “manchava”. Para isso, ordenou mais tarde, a morte de quinhentas antigas “colegas” cortesãs. Mas isso seria suficiente? Longe disso.

Para que, em suas próximas “reencarnações”, ela não viesse a sofrer as consequências do assassinato de suas antigas “colegas”, como mandava a doutrina da reencarnação, empenhou-se ainda em abolir de vez qualquer vestígio dessa doutrina usando a influência de Justiniano para fazer com que suas intenções fossem transformadas em “ordem divina”.

Assim, em 543 d.C., o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal, declarou guerra frontal aos ensinamentos do papa Orígenes, condenando-os através de um sínodo especial. Em suas obras “De Princippis” e “Contra Celsum”, Orígenes (185-235 d.C), já havia reconhecido abertamente a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas.

Esse sínodo especial convocado por Justiniano teve como participantes apenas os bispos ortodoxos do oriente e nenhum de Roma. Nem mesmo o próprio Papa participou pois estava em Constantinopla na ocasião.

O Concilio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou então de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da preexistência da alma e da reencarnação, apesar dos protestos de Virgílio, com a publicação de seus “Anathemata”.

A conclusão oficial a que o Concilio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Os documentos que lhe foram apresentados (os assim-chamados “Três Capítulos”) versavam apenas sobre a disputa a respeito de três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes.

Os Papas seguintes, Pelágio I (556-561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes. O edito de Justiniano foi então aceito pela igreja na seguinte forma: “Todo aquele que ensinar a preexistência da alma e sua “monstruosa” renovação será devidamente condenado”.

E assim ocorreram as coisas. Como eu disse anteriormente, por razões não muito nobres, a Igreja retirou de seus princípios a doutrina da reencarnação. Ao contrário do que a imensa maioria acredita saber, não é verdade que a Igreja jamais considerou a reencarnação como um fato. O grupo dos “Católicos Não-Espíritas” teve sua origem apenas em 543 d. C.

Fontes:

Revista História Viva
Livro Jesus Viveu na Índia (Kersten, Holger)

Um comentário em “As origens históricas da reencarnação

  1. Muito bom saber da história,você acreditar em reencarnação ou não,eu acho que os pessoas acreditam nisso por ser muito difícil aceitar a morte de quem a gente ama…Eu não acredito,principalmente quando se volta como animal…

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